sexta-feira, 9 de julho de 2010


A bem da verdade, não sou esse homem fatal que você pensa que eu sou. Aquelas histórias de sedução foram todas inventadas e esse ar superior, de quem sabe lidar com a vida, é apenas autodefesa.

Aquelas frases filosóficas, foram só pra te impressionar, pra te passar essa ilusão de intelectual... na verdade eu ainda nem sei se acredito nos valores que me ensinaram, quanto mais em frases feitas e opiniões formadas!

Senta aí, vai! Deixa eu tirar os sapatos, desmanchar o penteado... quero te mostrar que assim de perto não sou tão bonito quanto pareço, por isso uso todos esses artifícios. É que no fundo tenho um medo terrível de que você me ache feio, de que você encontre em mim uma série de imperfeições.

Sabe, não quero mais usar essa máscara de homem inatingível, de homem forte com punhos de aço... No íntimo me sinto uma pequena ave indefesa, leve demais para enfrentar o vento e deseja ficar no aconchego do ninho e ser mimado até adormecer.

Olha pra mim, às vezes minha intimidade não tem brilho algum e você terá que me amar muito para suportar essa minha impotência.

Deixa eu tirar o casaco, tirar o cansaço... essa jornada dupla me deixa tão carente... Eu queria mesmo era dividir a cama, a mesa, o banho... Queria dividir os sentimentos, os sonhos, as ilusões... um pedaço de torta, uma xícara de café, algum segredo...

Ah, eu tenho andado por aí, tenho sido tantos homens que não sou! Quantas vezes me inventei e até me convenci da minha identidade. Administrei minha liberdade. Tomei aviões, tomei whisky... troquei a lâmpada, tirei a camiseta sozinho ... decidi o meu destino com tanta segurança! Mas não previ que na linha da minha vida estivesse demarcada por uma paixão inesperada.

Agora, cá estou eu, alguns messes e todo atrapalhado, tentando ficar mais forte, um olhar mais grave, uma corrida sem camiseta ... mas não sei direito o que fazer para te gradar.

Confesso que isso me cansa um pouco. Queria mesmo era falar de todos os meus medos, "dos seus medos?" você diria, como se eu nunca tivesse temido nada. Queria te falar das minhas marcas de infância, dos animais que tive, do meu primeiro dia de aula... queria falar dessas coisas mais elementares, e te mostrar um mundo onde eu e você seriamos um só(eu, me equilibrando nos primeiros passos), ah, queria te mostrar minha primeira bicicleta, com truques. Ela ainda existe! Queria te mostrar as árvores que eu plantei (como elas cresceram!) e todas essas coisas que são tão importantes pra mim e tão insignificantes aos outros.

Ah, você queria falar alguma coisa? Está bem! Antes, só mais uma coisinha: estou morrendo de medo que você saia desta cena antes de mim, que você saia à francesa desta história, e eu tenha que recolocar minha máscara e me reinventar, outra vez.

As vezes pensamos porque temos que fazer algo, se quem te fez chorar não demonstra nada?

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